Santander fala em diversidade ao contratar no RS, mas precariza trabalho
Em entrevistas a portais de jornais gaúchos (leia uma delas aqui, ao Zero Hora), a Toquefale - empresa terceirizada comprada pelo Grupo Santander em abril e que está contratando cerca de 4,5 mil pessoas para operações de call center do banco em Novo Hamburgo e Campo Bom (ambas cidades do Rio Grande do Sul) - fala em “diversidade e inclusão” no processo seletivo para o preenchimento destas vagas. O que o banco não comenta, todavia, é a demissão em massa em curso no Vila Santander Paulista (VSP) até o fim deste ano, de muitos trabalhadores negros, LGBTs e PCDs. Falta também informar à mídia gaúcha como se darão as novas contratações (estes trabalhadores, precarizados, não terão as garantias e os direitos estabelecidos pela CCT da categoria bancária).
“Na propaganda do Santander e nas publicações suas na mídia, sejam elas publicidade ou matérias, tudo é muito bonito e colorido: os trabalhadores são valorizados e felizes, o banco espanhol é o melhor lugar do mundo para se trabalhar. Na prática, contudo, o cenário é calamitoso: demissões em massa de trabalhadores negros, LGBTs e PCDs, muitos deles chefes de família, no Vila Santander e em outros locais de trabalho em São Paulo e no Brasil todo. Além das demissões que só fazem aumentar as estatísticas do número de desempregados no país, temos o fechamento de agências e departamentos e a precarização das relações de trabalho com rebaixamento de salários e direitos historicamente conquistados pela categoria”, ressalta o dirigente Anderson Pirota, bancário do Santander e coordenador do coletivo LGBT do Sindicato.
Para o dirigente, o “jeito Santander de ser” não traz benefícios para a vida dos maiores protagonistas do lucro astronômico do banco no Brasil: “A praça brasileira responde por 30% do lucro global, e são os trabalhadores daqui, LGBTs, negros, PCDs, homens e mulheres que sustentam suas famílias, que contribuem para isto. Outra: que diversidade é esta no processo seletivo para o call center do Sul que precariza terceirizando por uma empresa do próprio Grupo Santander, que não garante às trabalhadoras e aos trabalhadores gaúchos dignidade, as conquistas dos bancários ao longo de décadas de luta?”, questiona Pirota.
“Terceirizar é precarizar o atendimento direto com o cliente, sem avaliar o impacto disso na qualidade de serviço, as mazelas e os baixos salários de um trabalhador terceirizado. E isso a diretoria do banco no Brasil não tem a coragem de dizer na mídia gaúcha. Vendem um banco que não existe”, acrescenta, lembrando que entidades representativas da categoria no Rio Grande do Sul também aguardam esclarecimentos do Santander.
Pirota enfatiza que o Sindicato está cobrando há semanas a abertura de negociações ao banco bem como explicações tanto das demissões em massa no VSP quanto da terceirização da operação de call center nas duas cidades do Rio Grande do Sul. “O Santander, assim como outros bancos, é uma das poucas empresas que estão tendo lucro durante a pandemia. Deveria era ter responsabilidade social, não demitindo e contratando bancários com todos os direitos assegurados pela CCT da categoria!”.
O dirigente lembra também que não há transparência tampouco coerência nos processos do banco no Brasil: “A alta direção do Santander aqui vai na contramão da matriz espanhola. Lá não há terceirizações e demissões, e reivindicamos que aconteça o mesmo no Brasil! Queremos transparência e negociações com urgência sobre o projeto em andamento no Sul bem como a manutenção dos empregos dos trabalhadores que operam em São Paulo e no Rio de Janeiro. Estes últimos são qualificados e com certificados para serem alocados em várias áreas do banco, como nas agências onde a falta de funcionários é gritante e muitos trabalhadores estão sobrecarregados e, consequentemente, adoecendo”.