Retomada econômica exige juros baixos
Com a Selic definida pelo Banco Central (BC) em 13,75%, a mais alta taxa básica de juros do mundo, os investimentos em títulos e fundos se tornam mais rentáveis que a produção. Resultado: a economia para, trabalhadores são demitidos e os salários caem. A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, observa que “nesse cenário, o investimento no mercado financeiro rende 8%, já descontada a inflação, e isso só favorece rentistas, que vivem da especulação sem produzir nada”.
Quando a Selic sobe, todas as possibilidades de investimentos produtivos são afetadas. Como explica o economista do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, “com essa opção de ganho, quem tem recursos prefere investir no mercado financeiro e ficar com os juros, e não se dedicar a um empreendimento”. Também surgem muitas outras travas para a produção. “O crédito bancário fica mais caro e desestimula consumo e atividade produtiva, o real se valoriza e derruba as exportações, o governo gasta mais com os juros da dívida e os investimentos públicos diminuem. Todos esses fatores enfraquecem a economia, então o desemprego cresce e a renda dos trabalhadores cai”, completa o economista.
Conforme observado em apresentação elaborada pela Rede Bancários do Dieese (A elevação dos juros no Brasil e seus impactos na economia), em função desse quadro de juros altos, os gastos anuais do governo com a dívida pública saltaram da casa dos R$ 300 bilhões no primeiro semestre de 2021 para praticamente o dobro nos últimos meses. O estudo também mostra suas consequências no ritmo de atividade econômica em 2023, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para apenas 0,9%, um terço em relação a 2022; e nos juros bancários, hoje ao redor de assustadores 30%. Enquanto isso, na comparação entre um período de nove meses de 2021 e de 2022, a receita dos cinco maiores bancos pulou de R$ 280 bilhões para R$ 385,7 bilhões (38%), apenas com operações de crédito, e de R$ 80,1 bilhões para R$ 168,8 bilhões (111%), com títulos e valores mobiliários (TVM). Confira a apresentação do Dieese aqui.
Para a sociedade, os impactos negativos são muitos. “Todo esse processo faz com que as riquezas se concentrem ainda mais e a miséria aumente no país”, resume Juvandia, que também é coordenadora do Comando Nacional dos Bancários. “O Brasil precisa de investimento em atividades que geram emprego e renda, como o micro e pequeno negócio e a agricultura familiar. A economia precisa voltar a funcionar, e essa necessidade é urgente, pois os juros como estão têm um efeito nocivo prolongado, e as taxas elevadas de hoje podem atrapalhar as atividades produtivas pelos próximos anos”, explica.
Juros baixos já!
A categoria bancária se mobilizou, na última terça-feira (14), contra os juros altos determinados pelo Banco Central (BC). Os atos se concentraram em frente aos prédios do BC em Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Em cidades onde a instituição não possui sede, os atos ocorreram em locais de grande circulação.
As manifestações, que também pediram a saída do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foram organizados pelo Comando Nacional dos Bancários, a Contraf-CUT, a CUT, outras centrais e entidades.
A presidenta da Contraf-CUT diz que os protestos foram “um alerta para o Brasil, para exigir mudanças no BC, que ainda é presidido por um bolsonarista”. Segundo Juvandia, “o povo elegeu um novo projeto, de crescimento, desenvolvimento, distribuição de renda e atenção ao povo brasileiro”. Por outro lado, ela lembra que “Campos Neto fez campanha, foi votar de verde-amarelo, participava dos grupos de WhatsApp dos ministros do governo anterior e continua fazendo a política do Paulo Guedes. O tempo dele acabou, tem que pedir para sair”.
Veja aqui a galeria fotos dos atos em todo o Brasil.
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