Pandemia e defesa da democracia e dos bancos públicos marcam abertura da Conferência
Bancários de todo o país acompanharam on-line a abertura da 22ª Conferência Nacional dos Bancários na noite desta sexta-feira 17. Com o tema “A distância não nos limita: unidos na luta pela vida, democracia, direitos e contra as privatizações”, o evento reuniu lideranças sindicais e políticas de diversas partes do país para discutir os rumos da mobilização da categoria com o objetivo de conquistar a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e garantir direitos nas negociações com a Fenaban.
O encontro foi realizado de forma virtual por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
“A distância não nos limita nem um pouco! A hora é de usar a tecnologia a favor dos trabalhadores, e isso nós estamos aprendendo muito rápido”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva.
Após a aprovação do regimento interno, dirigentes de sindicatos e federações de diferentes bases fizeram suas saudações aos 635 delegados participantes, de 118 sindicatos. Ivone lembrou do retorno positivo das campanhas dos bancários para toda a sociedade.
“Nossa campanha em 2019 injetou R$ 10,549 bilhões na economia, em PLR e vales refeição e alimentação por exemplo. Porque o bancário não vai deixar esse dinheiro parado no bolso, e sim fazer a economia girar”, explicou.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, também lembrou do impacto do resultado da campanha dos bancários nas negociações de acordos de outras categorias.
“A campanha salarial dos bancários, sendo vitorioso, influencia as demais categorias, que negociarão no segundo semestre. É muito importante uma vitória econômica, pois os trabalhadores percebem importância da organização. Mas numa conjuntura terrível como essa, de um governo autoritário e de desmando, cuja irresponsabilidade está levando o país a uma crise sem precedente, essa campanha é também um momento de rediscussão dos rumos do Brasil”, comentou Nobre.
“Vários sindicatos estão sendo atacados, e várias categorias estão percebendo a importância de um sindicato forte. Não podemos esquecer que esse momento é de muita solidariedade para todo mundo”, completou Ivone.
Conjuntura adversa
O evento se encerrou com uma mesa de análise de conjuntura com Ivone; a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST); o governador do Maranhão, Flávio Dino; e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
“Esse ano temos muitos desafios. A última Campanha Nacional dos Bancários, em 2018, foi feita em um cenário totalmente diferente. Vamos entrar em campanha em um país com 12 milhões de desempregados, em meio a uma pandemia que tem deixado muitas categorias expostas, apesar de termos conseguido que muitos bancários ficassem em casa ou com equipamentos de proteção em dia”, lembrou Ivone.
O ex-presidente Lula traçou um paralelo entre as medidas de proteção conquistadas pela categoria bancária e o cenário enfrentado pelo Brasil durante a crise sanitária e econômica.
"Se o Brasil tivesse uma presidenta igual à companheira Juvandia [Moreira], quando ela tivesse ficado sabendo que tinha um novo vírus estava viajando o mundo e pegando a todos, ela teria se precavido como todo presidente responsável teria feito. Teria montado um comitê de crise, reunido ministro da saúde com governadores e secretários de saúde dos estados. Mas o atual presidente resolveu brincar, dizer que é uma gripezinha... E ainda achava que as pessoas deveriam trabalhar, mas pensando com a cabeça do [ministro da Economia, Paulo] Guedes, já que o próprio Bolsonaro é um ignorante que não entende nada de economia", afirmou. "Temos uma crise sanitária e de desemprego ocorrendo concomitantemente. Como vamos resolver? Como a pessoa que age da forma que eu descrevi no começo", concluiu.
Guilherme Boulos também retomou o tema da crise causada pelo novo coronavírus e seus impactos para a classe trabalhadora face à falta de políticas públicas de enfrentamento à crise econômica e sanitária.
“Esta é a maior crise da nossa geração, sem sobra de dúvida. É uma crise sanitária que está chegando a 80 mil mortes no Brasil, muitas dessas que poderiam ser evitadas se houvesse esforços por parte do governo federal. Os três países com mais mortes no mundo são os governados pela extrema direita: Estados Unidos, Brasil e Reino Unido, cujos governantes adotaram uma linha negacionista. O que estamos vendo é um verdadeiro genocídio! Não tem estratégia de saúde pública, não tem testagem em massa, não tem controle epidemiológico... E, não contente, quer se aproveitar do desastre humano para promover seu autoritarismo”, contestou.
Lula criticou também as constantes trocas de ministros da Saúde durante a pandemia.
“A gente não está fazendo crítica ao Bolsonaro puramente porque ele é presidente. É porque ele não tem competência! Não é possível em alguns meses de crise termos tido três ministros da Saúde. E agora colocou um general! porque em sua incapacidade de encontrar um bom nome na sociedade civil, ele tenta resolver tudo colocando um general. Generais resolvem um monte de coisa, mas não tudo”, completou.
Organização e resistência
Flávio Dino defendeu o papel das entidades representativas dos trabalhadores de esclarecer a população sobre a necessidade de defender a democracia.
“A democracia precisa estar enraizada no coração do povo mais simples e humilde. Não pode ser uma distração, um conceito jurídico formal: é um sentimento, e por isso temos que mostrar que é ela o regime no qual as pessoas têm direitos. Teremos um entulho autoritário muito grande a remover no próximo governo popular e progressista. E um dos pontos é o caráter antissindical, que não atinge só os dirigentes sindicais, mas prejudica a todos os trabalhadores”, defendeu.
Já o ex-prefeito Fernando Haddad ressaltou os movimentos de reação ao caráter autoritário do governo Bolsonaro.
“Bolsonaro trata quem não é de sua base de apoio como um inimigo a ser derrotado com as armas que ele tem à mão. Diante disso, precisamos entender que a sociedade não está parada. Já tivemos três movimentos de rua importantes: da educação, no primeiro semestre do ano passado, que garantiu a liberação do orçamento; das torcidas organizadas, que foi muito importante, pois colocaram suas diferenças no futebol de lado em defesa de um princípio; dos entregadores de aplicativo, por direitos trabalhistas, porque o combate ao fascismo é também uma luta por direitos. E isso é um sinal de que as ações do Bolsonaro têm consequências! E vai chegar um momento que vamos ter que ir às ruas defender os bancos públicos, porque o Brasil não tem como se desenvolver sem essas instituições”, complementou.
Juvandia Moreira lembrou que os ataques aos bancos públicos que vêm sendo implementados desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.
“Desde que passamos pelo golpe de 2016, só nos bancos públicos já perdemos cerca de 30 mil postos de trabalho, que foram eliminados através de PDVs. São trabalhadores que foram chamados a sair. Há um desmonte dos bancos públicos, em especial os federais, como o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES. Como eles não podem vender tudo de uma vez sem passar pelo Congresso Nacional, vão fatiando e vendendo as partes mais lucrativas”, ressaltou.
A Conferência continua neste sábado 18, com mesas sobre a economia brasileira na pandemia, política tributária e sistema financeiro. Ainda neste sábado serão discutidas estratégias para a Campanha Nacional, a importância da comunicação e organização das redes sociais. Ao final, serão apreciadas a minuta, propostas, resoluções e moções e defesa da democracia.