Negociação na terça: queremos proposta!
A Campanha dos Bancários 2020 entra numa etapa decisiva nesta semana: na última rodada de negociação, ocorrida na tarde de sexta-feira 14, a Fenaban (federação dos bancos) assumiu o compromisso de apresentar uma proposta geral aos trabalhadores na mesa seguinte, que ocorrerá nesta terça-feira 18, a partir das 11h, por videoconferência, e debaterá as cláusulas econômicas.
“Já na mesa de sexta, destacamos para os representantes da Fenaban que os bancos continuam lucrando mesmo na crise econômica agravada pela pandemia de coronavírus, e têm total capacidade de atender nossas reivindicações. Além de melhores condições de trabalho, queremos aumento real para salários e demais verbas e PLR maior”, afirma Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, que representa a categoria na mesa de negociação com a Fenaban.
A categoria quer reposição da inflação mais aumento real de 5%; PLR de 3 salários mais parcela fixa de R$ 10.742,91; VA e VR no valor mensal de R$ 1.045 cada um; auxílio-creche/babá mensal de R$ 1.045 para cada filho até 12 anos; Plano de Cargos e Salários mais justo e transparente; dentre outras reivindicações sociais, de saúde e segurança, de igualdade de oportunidades, e de garantia de empregos. Todas já apresentadas pelo Comando dos Bancários à Fenaban, ao longo de cinco rodadas de negociação, sem respostas concretas dos bancos até agora.
“O compromisso é de que estas respostas venham nesta terça. Nós do movimento sindical valorizamos a via negocial, e esperamos que os bancos façam o mesmo. Desde a campanha de 2018, a primeira após a reforma trabalhista, os bancários correm contra o tempo pressionados pelo fim da ultratividade. Temos que fechar um acordo até 31 de agosto, que é a data de validade de nossa CCT. Sem isso, todas as cláusulas da nossa convenção estão ameaçadas”, explica Ivone.
A ultratividade é um princípio jurídico que estendia a validade de um acordo trabalhista até que um novo acordo fosse fechado. Assim, os direitos de qualquer categoria estavam resguardados enquanto os trabalhadores negociavam um novo acordo com os patrões. “A ultratividade, portanto, dava segurança aos empregados enquanto lutavam por seus direitos. Foi mais um retrocesso nos direitos dos trabalhadores, iniciado após o golpe de 2016 e que se aprofunda até hoje, com as políticas antitrabalhistas do atual governo”, lembra a dirigente.
“Por isso a categoria bancária tem de estar ainda mais mobilizada e atenta à Campanha. Acesse nosso site, nossas redes sociais, cadastre-se para receber notícias do Sindicato tanto por e-mail quanto pelo WhatsApp. A Campanha deste ano é atípica, por conta da necessidade de isolamento social com a pandemia, portanto, precisamos da mobilização de todos nas redes sociais, nos tuitaços que promovemos a cada negociação, nos grupos de WhatsApp com os colegas de trabalho. A distância não deve nos enfraquecer e precisamos mostrar aos bancos que, mesmo nessa conjuntura de crise sanitária, estamos atentos, unidos e dispostos a lutar por nossos direitos”, convida a presidenta do Sindicato.
Bancos seguem lucrando alto
Os bancos continuam sendo o setor mais lucrativo e rentável da economia brasileira. Apenas no primeiro semestre deste ano, os quatro maiores – Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – já lucraram R$ R$ 28,5 bilhões (Caixa ainda não divulgou seu balanço), o que não é nada desprezível, especialmente neste momento de pandemia e crise financeira pelo qual passa o país e o mundo.
“Os representantes dos bancos chegaram a mencionar na mesa de sexta que os lucros diminuíram. Mas nós destacamos que isso se deu principalmente por conta do aumento das provisões para prováveis calotes, os chamados PDDs [Provisão para Devedores Duvidosos]. Sem PDDs altos, o lucro dos quatro seria ainda maior. É preciso também não confundir lucros menores com prejuízo: os bancos continuam lucrando e muito”, reforça Ivone Silva.
Em 2019, os lucros somados dos cinco maiores alcançou R$ 108 bilhões, com alta média de mais de 30% em relação a 2018. E a economia já se estava em crise. “Não tem crise para os bancos. Por isso, queremos propostas decentes da parte deles”, reafirma a dirigente.
PLR
A PLR é outra prioridade da categoria bancária. E os trabalhadores estão munidos de dados que comprovam que os bancos, mesmo com resultados menores, continuam altamente lucrativos e não têm desculpas para não atender a essa reivindicação da categoria.
“Com a alta expressiva dos lucros dos bancos ao longo dos anos, o percentual médio de distribuição da PLR não chega a alcançar nem nem 7,2%, como previstos na CCT. Dados mostram que, entre 1997 e 2019, enquanto o lucro dos bancos teve crescimento real de 446%, a PLR de um caixa cresceu 160%, ou seja, o lucro do setor cresceu num patamar 2,8 vezes maior do que cresceu a PLR dos caixas, por exemplo”, informa Ivone. “Ou seja, os bancos não têm por que alegar queda nos resultados para não atender à demanda dos bancários por PLR melhor”, enfatiza.
VA e VR
Outra demanda é por VA e VR maiores. Segundo o IBGE, a inflação do grupo Alimentação foi de 8,3% (ago/2019 a jul/20), um dos que mais pesou no cálculo do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que ficou em 2,69%. E contrariando o que normalmente ocorre, o subgrupo Alimentação no Domicílio teve alta maior (9,7%) do que o de Alimentação Fora do Domicílio (4,5%).
Os preços da Cesta Básica, segundo o Dieese, também tiveram alta em praticamente todas as capitais em doze meses, ficando estável somente em Brasília.
“Valorizar o VA e VR é também fundamental para manter o poder aquisitivo da categoria bancária”, ressalta Ivone.