Meu cabelo e a cor da minha pele te incomodam, por quê?
“Eu sou mais do que você vê, sou fruto da resistência e da luta de muitos. Sou fruto do sangue, do choro e do suor dos meus ancestrais. Sou aquela que causa desconforto aos seus olhos por estar em lugares que na teoria seriam seus.” Esse trecho é parte de uma resposta da blogueira e dona de um brechó Yasmin Stevam, nas suas redes sociais, em resposta ao ataque racista que sofreu após participar de um programa de TV e dizer que não arrumou emprego por conta do cabelo.
Negra e linda, Yasmim chama atenção nas redes sociais pelas belas fotos e pelo cabelo crespo volumoso. Mas isso não é motivo e nem será para ela se calar diante do preconceito e do racismo existente no Brasil. Ela dispara:
“A crueldade do racismo é escancarada e tão cruel ao ponto de fazer com que seus próprios irmãos reproduzam atos racistas. Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo? Quem te ensinou a odiar a cor da sua pele de tal forma que você passa alvejante para ficar como o homem branco? Quem te ensinou a odiar a forma do nariz e a forma dos seus lábios? "
A violência psicológica e moral sofrida por Yasmim estão entre os assuntos discutidos no Novembro da Resistênci,a promovido pelo Sindicato Cidadão, que celebra o Dia da Consciência Negra na terça-feira 20 e, no dia 25, o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, que dá início aos 16 dias de ativismo articulados mundialmente contra a violência.
Relatório do Ligue 180 comprova que, mesmo com avanços na lei e das politicas públicas, o Estado não conseguiu barrar a violência de gênero. De um total de 555 mil ligações, quase 68 mil dos atendimentos eram relatos de violência que foram classificados como violência física (51,06%); violência psicológica (31,10%); violência moral (6,51%); cárcere privado (4,86%); violência sexual (4,3%); violência patrimonial (1,93%); tráfico de pessoas (0,24%).
Nesses atendimentos, 59,71% das mulheres que relataram casos de violência eram negras e a maioria das denúncias foi feita pela própria vítima (67,9%).
Ainda segundo a pesquisa, raça e sexo são categorias que justificam as discriminações e subalternidades, construídas historicamente no Brasil, e isso acaba permitindo que a mulher negra fique em situação de maior vulnerabilidade em todos os âmbitos sociais.
Mulher negra no mercado de trabalho
A blogueira Yasmim Stevam se tornou ainda mais conhecida após relatar em um programa de TV que participou de várias entrevistas de emprego e nunca era chamada. Ela acredita que isso acontecia por conta da cor da pele e das tranças longas que usava no cabelo.
“Percebia que a entrevistadora falava a todo o momento sobre o padrão das vendedoras (não tinha negras) e que queria acabar logo com o assunto para eu ir embora. Depois de muito refletir, resolvi assumir meu cabelo e abri meu próprio negócio”, conta.
A discriminação sofrida pela blogueira não é a única. Dados do IPEA, de 2009, mostram que no Brasil havia um contingente de 53.566.935 mulheres negras, dentre uma população residente estimada em 201,5 milhões de pessoas e que 51,1% das famílias se declararam chefiadas por mulheres negras; elas que recebiam 51,1% do rendimento das mulheres brancas; de cada cem mulheres negras chefes de família, onze estavam desempregadas, e entre as brancas este número era de apenas sete. Embora tenham constituído um grupo social com escolaridade acelerada e melhor participação e desempenho do que os homens negros isso não teve reflexo na hora de conseguir um emprego.
"As empresas investem muito no debate de respeito a diversidade, mas há muito que avançar ainda. Se olharmos nos bancos, a representatividade negra é pouco visível. Nós lutamos para que essa realidade se transforme e para que cada vez haja mais negros e negras nos locais de trabalho sem discriminação de forma alguma. Por isso, lutamos pelo Censo da Diversidade para acompanharmos essa evolução", diz Ana Marta, do Coletivo de Combate ao Racismo do Sindicato.
Durante o mês de novembro, vários sites debateram a questão da Consciência Negra. O site DRelacionamentos trouxe de forma bem humorada, mas vale a pena assitir, refletir e repensar. Afinal, a sociedade será melhor para todos se houver diretitos e tratamentos iguais.