Fenae denuncia que meta da gestão Pedro Guimarães de fatiar subsidiárias levará Brasil ao caos social

Se depender da gestão Pedro Guimarães, os 160 anos da Caixa Econômica Federal como banco 100% público estão com os dias contados. Isso porque no cardápio amplo de privatizações e venda do patrimônio público do país, conforme agenda do governo Bolsonaro, o presidente da instituição anunciou nesta terça-feira (26) plano de retomada das operações voltadas ao mercado, com foco total na entrega de fatias de subsidiárias ao capital privado. A medida, segundo o gestor, contribui para diminuir o endividamento público e tende a melhorar a governança do banco.

O argumento, entretanto, não convence o diretor de Formação da Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa (Fenae), Jair Pedro Ferreira. “Isso é uma falácia sem parâmetro. A Caixa já segue regras sustentáveis de governança e, para isso, possui Conselho Fiscal, Conselho de Administração e Comitê de Auditoria, entre outras instâncias de gestão. Portanto, usar esse argumento é disfarçar o real interesse da equipe econômica do atual governo, que é preparar o terreno para a privatização do banco”, denuncia.

Segundo diversos veículos de imprensa, que divulgaram as declarações do gestor, Pedro Guimarães citou a Caixa Seguridade, a Caixa Cartões, a Caixa Loterias, a gestão de recursos (asset) e até o banco digital, ativo ainda a ser criado e que reunirá o patrimônio formado a partir dos serviços prestados pelo aplicativo Caixa Tem e por milhões de contas abertas para o pagamento do auxílio emergencial.

O plano é entregar fatias de subsidiárias a empresas privadas, num processo denominado “Initial Public Offering” (IPO, sigla em inglês), nome dado à primeira vez em que uma empresa (no caso da Caixa, a única 100% pública do país) recebe novos sócios realizando uma oferta de ações ao mercado da Bolsa de Valores. Criada em 1861, a Caixa Econômica Federal ganhou subsidiárias ao longo dos anos: a Caixa Seguridade, a Caixa Loterias, a Caixa Cartões e a gestão de recursos (asset). Na lista constam ainda 24 empresas coligadas, além do banco digital, ainda não criado.

O diretor de Formação da Fenae critica a medida anunciada por Pedro Guimarães e diz que essas operações já representam o enfraquecimento da Caixa. “Essas aberturas de capitais, para os empregados que defendem a Caixa 100% pública, são a privatização do banco e o seu enfraquecimento”, reitera.

Segundo Jair Ferreira, a julgar pelo que afirmou o presidente da Caixa em artigo recente ao jornal Correio Braziliense, mesmo depois de confirmar que “a instituição seguirá forte e pujante na missão de se fazer presente na vida de todos os brasileiros”, a situação tende a ficar ainda pior neste momento de crise.  E questiona: “Com a instabilidade do mercado, a população será a mais atingida se a Caixa perder suas subsidiárias. São essas áreas que permitem que o banco financie menores taxas para a compra da casa própria e realize a operação de toda a área social, com benefícios ao trabalhador, acesso a produtos e serviços por meio da bancarização, além do Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), por exemplo”.

No fundo, acrescenta, é tudo desmonte do Estado. “No caso da Caixa, ao vender partes estratégicas do banco de maneira fatiada, uma das consequências nefastas será a diminuição do repasse de dividendos ao Tesouro Nacional, dinheiro que poderia beneficiar regiões pobres espalhadas pelo país, no lugar de aumento do lucro ao setor privado”, critica. Ele diz que a importância da presença do banco público em praticamente todos os municípios brasileiros estará em risco se a Caixa for fatiada, que é o que está se desenhando. “Posso até manter um banco pequeno, mas praticamente sem seu papel tão importante”, afirma.

Em 160 anos de Caixa, completados no último dia 12 de janeiro, a Fenae avalia que a atuação do banco público contribuiu para o desenvolvimento do país e mudou para melhor a vida dos brasileiros. Ainda assim, de acordo com a entidade, o banco continua ameaçado por um governo neoliberal e privatista, que tenta impor o fatiamento e a privatização de partes rentáveis da instituição, enfraquecendo seu papel social e atacando direitos dos seus empregados.