Empregados da Caixa realizam Dia de Luta nesta sexta-feira
Os empregados da Caixa Econômica Federal estão mobilizados para marcar esta sexta-feira 15 como o Dia Nacional de Luta em defesa do banco público e pelo reconhecimento aos trabalhadores. A mobilização é uma resposta aos recentes posicionamentos da nova diretoria, que já deu início ao desmonte da Caixa com a venda de ativos e promete privatizar as áreas mais rentáveis do banco ainda este ano.
Em São Paulo, as atividades desta manhã acontecem principalmente em agências do eixo da Avenida Paulista, com atraso de abertura dos postos de trabalho em cerca de uma hora, cartazes e panfletagem do movimento sindical.
Para tentar conter o enfraquecimento do maior banco público do América Latina e principal agente do desenvolvimento social do país, os movimentos contra a privatização da Caixa, por meio da Comissão Executiva de Empregados (CEE/Caixa), levantam as seguintes bandeiras:
Em defesa da Caixa 100% pública.
Contra a venda das áreas mais lucrativas do banco.
Na defesa do seu papel social.
Contra as manobras que reduzam o lucro da Caixa.
Mais reconhecimento ao trabalho.
Por mais empregados já.
Fim do assédio moral na empresa.
O Dia Nacional de Luta será realizado em todo o país em diversos horários, com atividades e protestos. Estão previstas reuniões com empregados, atos em frente a agências da Caixa e distribuição de materiais informativos, que serão disponibilizados aos sindicatos de bancários e associações de pessoal de Caixa (Apcefs). A mobilização também ocorrerá nas redes sociais, com a hashtag #ACaixaédoBrasil – haverá um tuitaço a partir das 14h. Em protesto, os empregados devem vestir preto.
“Convocamos o Dia Nacional de Luta para mostrar nossa indignação com tamanho desrespeito aos trabalhadores e mostrar nossa contrariedade às medidas privatistas que estão sendo implantadas”, afirma o diretor do Sindicato Dionísio Reis, coordenador da Comissão Executiva de Empregados (CEE/Caixa), que assessora a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) nas negociações com o banco.
O desmonte da Caixa
Desde que tomou posse, o novo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, vem colocando em prática seu cronograma de fatiamento da empresa, combinando a venda de ativos com maior liquidez e menos resistência política. O processo tem início com a venda de participações que o banco detém ou gere em outras estatais. A finalidade dessa operação é enfraquecer a Caixa e torná-la cada vez mais deficitária, já que o fatiamento de ativos societários inclui a venda dos produtos e serviços mais rentáveis. Ou seja, quanto mais rápido o lucro e menor resistência à sua venda, mais acelerada seguirá a privatização do banco. O processo, assim, visa tornar-se mais palatável e menos perceptível, sem confronto político com diversos setores da sociedade.
Segundo o Datafolha, 60% dos brasileiros rejeitam as privatizações. No entanto, a nova gestão do banco também promete passar ao mercado unidades rentáveis nas áreas de seguro (Caixa Seguradora), gestão de ativos, loterias e cartões. A Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) chama atenção para a privatização disfarçada, já que a Caixa tem um papel social insubstituível. “O desmonte terá consequências diretas para os empregados, mas também haverá reflexos para toda sociedade, na oferta da moradia e infraestrutura, no bem-estar dos trabalhadores e de toda população”, afirma o presidente da entidade, Jair Pedro Ferreira.
A Caixa é o banco da casa própria, por ser responsável por sete em cada dez financiamentos habitacionais no Brasil (no caso da moradia popular, chega a 90%). É também o banco do trabalhador, pois paga o seguro-desemprego, o abono-salarial e o PIS, entre outros benefícios. E ainda o banco da poupança (40% das poupanças brasileiras) e o da infraestrutura, pois leva saneamento básico, energia e urbanização aos municípios mais distantes. Além disso, 37% da arrecadação das loterias vão para programas sociais que atendem milhões de brasileiros.
Por ser uma instituição tão presente na vida dos brasileiros, é possível acreditar que a venda das suas mais rentáveis áreas beneficiará à população? Ou vai apenas atender aos interesses do sistema financeiro privado? Algumas informações ajudam a responder esses questionamentos. Segundo avaliação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (Dieese), apenas na área de asset (gestão de ativos), a Caixa obteve crescimento expressivo nos últimos anos, superando o patamar de R$ 1,8 bilhão, em 2017, e com previsão de mais de R$ 2,1 bilhões, em 2018. Receita importante também foi observada no segmento de cartões, com números superiores a R$ 2 bilhões anuais nos últimos cinco anos. O montante estimado para 2018 supera R$ 2,1 bilhões, com variação em torno de 2,8% em relação a 2017. Essas são as áreas que a nova diretoria pretende entregar ao mercado.
Além disso, os empregados contestam a necessidade de fazer uma provisão bilionária – como anunciado pelo presidente Pedro Guimarães – para cobrir perdas esperadas com calotes na carteira de financiamento imobiliário e a desvalorização de imóveis retomados pelo banco. A Caixa, porém, é o banco com menor inadimplência nesta carteira.
Segundo Dionísio Reis, os empregados solicitaram reunião com a diretoria para esclarecimento das mudanças que estão sendo feitas, mas o banco se recusou a passar informações às entidades de representação dos empregados.
O coordenador do CEE/Caixa destaca ainda que poderá ter redução na Participação nos Lucros e Resultados (PLR) que os empregados recebem. “Foram esses empregados que deram duro e conseguiram superar as metas estipuladas pelo banco. A nova direção da Caixa, no entanto, não quer reconhecer o esforço dos trabalhadores”, afirma.