Bancários protestam contra desmonte do Banco do Brasil
Sindicatos dos bancários de todo o país ocuparam departamentos e agências do Banco do Brasil e as ruas e praças de suas proximidades para protestar contra o desmonte do banco, promovido pelo governo Bolsonaro. No dia 29 de julho, o banco anunciou mais um Plano de Adequação de Quadros (PAQ), com previsão de extinção de funções, redução de postos de trabalho.
O banco também prepara um novo plano de desligamento incentivado e, nesta sexta-feira (9), o jornal Valor Econômico noticiou que o Ministério da Economia vai encaminhar ofícios às empresas estatais solicitando a devolução antecipada de dividendos, o que poderia afetar, ainda mais, o capital dos bancos públicos.
“Para o Brasil voltar a crescer e gerar emprego e renda, o Estado tem que investir e colocar os bancos públicos para ajudar a financiar esse crescimento, ampliando a oferta de crédito”, afirmou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira. “A política que vem sendo praticada com os bancos e demais empresas públicas vai na contramão. Corta postos de trabalho e reduz a capacidade de investimento público. Isso leva a economia à estagnação, quando não à recessão”, criticou.
Os protestos desta sexta realizados em Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Catanduva (SP), Ceará, Cornélio Procópio (PR), Espírito Santo, Florianópolis (SC), Juiz de Fora (MG), Londrina (PR), Macaé (RJ), Petrópolis (RJ), Piauí, São Paulo (SP), Taubaté (SP), Teófilo Otoni (MG) , entre outras localidades do país, fazem parte do calendário de luta em defesa dos bancos públicos, definido na 21ª Conferência Nacional dos Bancários.
Agências digitais
A opção pelas agências digitais, em detrimento das unidades físicas também prejudica a economia, segundo o João Fukunaga, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB).
“A proliferação de agências digitais afetará a função pública e social do banco. A política de Estado para os bancos públicos deveria priorizar a bancarização da população, principalmente a de mais baixa renda. Não copiar o modelo adotado pelos bancos privados”, criticou Fukunaga. “Isso não quer dizer que o BB não possa ter agências digitais, mas o banco não pode abrir mão de agências físicas arriscando descumprir com a função social que compete a um banco público”, completou.
Levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base em dados do Banco Central, aponta que, atualmente, dos 5.590 municípios brasileiros, 3.365 (60,2%) contam com uma ou mais agências bancárias. Do total de municípios, 950 (17%) são atendidos somente por bancos públicos. Os dados mostram, ainda que, com o fechamento de agências de bancos públicos, 57% das cidades brasileiras podem ficar sem agências bancárias e, neste caso, suas populações terão que se deslocar para outros municípios para ter acesso aos serviços por elas prestados.
O exemplo mais alarmante é de Roraima. Dos 15 municípios do estado, apenas seis contam com agências bancárias e em cinco deles existem apenas bancos públicos. Fechadas as agências de bancos públicos, toda a população do estado teria de ir até a capital para utilizar um banco.
“A atual política de Estado é de exclusão. Com isso, o papel do banco público, que deveria contribuir para o desenvolvimento regional igualitário e garantir a oferta de serviços bancários para a população, vem se perdendo”, afirmou o representante dos funcionários do BB.
Lucro versus redução do quadro
Na quinta-feira (8), o Banco do Brasil divulgou os resultados do primeiro semestre de 2019, com um lucro de R$ 8,679 bilhões, crescimento de 38,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo análise elaborada pelo Dieese. A rentabilidade do banco chegou a 17,4%, ante 12,9%, na comparação entre os mesmos períodos.
Mas, mesmo com lucros crescentes, nos últimos doze meses, o BB reduziu 1.507 postos de trabalho. Nos últimos três meses o banco reduziu 399 postos de trabalho.
“Nós queremos um Banco do Brasil forte e competitivo, mas também que desempenhe seu papel de banco público. Queremos, acima de tudo, um banco que respeite e valorize seus funcionários, que são os verdadeiros responsáveis pela existência da empresa e por seus lucros crescentes”, disse Luciana Bagno, diretora do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e membro da CEBB.
Fonte: Contraf-CUT / Paulo Flores